China – História Contemporânea

… O regime republicano começa assim com o fim de mais de dois milénios de governação imperial. (in https://www.flechaquebrada.org/2014/05/china-historia-imperial.html)

História Contemporânea

No entanto, a república ainda não estava preparada para viver em democracia. O ano de 1916 foi prova disso mesmo quando o presidente Yuan Shikai tentou autoproclamar-se Imperador da China.[i] Os anos seguintes assistiram novamente a um período conturbado da história chinesa. Entre 1917 a 1927, o poder central foi praticamente decepado quando várias regiões chinesas passaram a ser dominadas por senhores da guerra. À imagem da China pré-imperial, o poder político encontrava-se novamente fragmentado por todo o território. Esta fase da história chinesa ficou conhecida como “A Era dos Senhores da Guerra” e teve um efeito devastador na população, maioritariamente camponesa e vulnerável aos conflitos internos. A guerra civil sujeitou a população à fome, a doenças e à pobreza generalizada.

Os intelectuais estavam conscientes do drama que o país enfrentava e a sua grande maioria sentia-se novamente humilhada pela degradação da nação chinesa. Os grandes movimentos nacionalistas republicanos começaram a ganhar expressão. De entre eles, houve dois que começaram a destacar-se e a ganhar importância entre a sociedade chinesa – o Partido Nacionalista (Kuomintang) e o Partido Comunista Chinês (PCC). Na sua fase inicial, ambos os partidos foram apoiados pela União Soviética de Estaline. A intenção estratégica do líder soviético seria assegurar que a revolução nacionalista chinesa efectivamente aconteceria. Para que tal acontecesse, seria necessário assegurar a sobrevivência do PCC e apoiar inicialmente o Kuomitang com mais popularidade na altura. Entre 1923-1927, os dois partidos viveram num clima de cooperação e deram origem à Primeira Frente Unida sob a orientação do Komintern Soviético.[ii] Consta que inclusive existiam membros que pertenciam a ambos os partidos.[iii]

Em 1927, sob a liderança de Chiang Kai-shek o Kuomitang consegue estabelecer um governo central e, com o apoio do Exército Revolucionário e dos comunistas, reunificar a China. No entanto, o líder nacionalista entrou em ruptura com o PCC imediatamente a seguir à subida ao poder do Kuomitang. Na sequência daquela que é considerada uma traição histórica dos nacionalistas, os membros do PCC passaram a ser perseguidos e a sua grande maioria é executada ou aprisionada pelos membros do Kuomitang. Os comunistas passaram então a adoptar uma estratégia de guerrilha face ao poder político.

Em 1934, os nacionalistas quase conseguiram o objectivo de aniquilar a resistência comunista. A facção militar do PCC conseguiu evitar a intenção do governo central e iniciou a mais longa fuga terrestre da história contemporânea. Os comunistas caminharam durante mais de doze mil quilómetros ao longo do território chinês e durante quase dois anos.[iv] A retirada, épica para os chineses, ficou celebremente conhecida como “A Longa Marcha”. Mao Zedong começou a ganhar importância e a destacar-se no partido durante a retirada comunista. Nas montanhas da província chinesa de Shaanxi[v], o futuro líder chinês começou a delinear os ideais de uma nova república popular. A nova concepção ideológica tinha como ponto de partida uma mistura de filosofia e dogma político. O Maoísmo[vi], como ficou conhecido, teve alguma influência nas ideias de Estaline mas possuía a diferença de assentar no romancismo que a tradição revolucionária havia alimentando, no simbolismo da resistência comunista, na sua grande caminhada e na prometida redistribuição das terras à população camponesa.[vii]

No ano de 1937, a invasão japonesa do território chinês muda o curso da história do país e obriga o líder chinês a fugir da capital para o sudoeste da China. Nesta região, Chiang Kai-shek estabeleceu uma base temporária de onde poderia governar e coordenar a guerrilha chinesa contra as tropas japonesas. A invasão deu origem à criação da Segunda Frente Unida, uma espécie de união entre os dois partidos para combater os japoneses. Todavia, desta vez o acordo apenas contemplava a cooperação militar entre ambos e o PCC manteve na prática a sua independência política e operacional.

Com a rendição japonesa em Agosto de 1945, a frente unida entrou mais uma vez em colapso e deu-se início a um novo período de guerra civil entre ambos. Entre 1946 e 1949, os Estados Unidos tentaram através da diplomacia criar uma coligação entre os dois partidos para que pudessem governar pacificamente a China. No entanto, a iniciativa norte-americana fracassou sempre. No ano de 1949, a guerra civil termina com a vitória dos combatentes comunistas e os membros do partido nacionalista foram obrigados a fugir do país. Chian Kai-shek refugiou-se na Ilha Formosa e estabeleceu aí a nova República da China. Simultaneamente, o líder Mao Zedong proclamou no continente a República Popular da China e reclamou a soberania da Ilha Formosa.[viii] Com a coexistência entre a China Insular e a China Continental nasceu a República Popular da China e o regime comunista actual.

Economia

Hoje, a China é uma nação poderosa que impressiona a comunidade internacional com o seu vertiginoso ritmo de desenvolvimento. Ninguém pode ficar indiferente às elevadas taxas de crescimento que têm sido verificadas no seu produto interno bruto (PIB). Os países mais ricos vêem na economia chinesa uma oportunidade para uma parceria estratégica favorável. Observemos o nosso exemplo mais próximo. As importações chinesas por parte da Zona Euro têm actualmente um peso de cerca de 10% do total europeu, um valor superior ao dos Estados Unidos.[ix] O investimento dos países europeus representa 7% do investimento directo estrangeiro em território chinês.[x] Não será de admirar portanto que, pondo de parte a questão dos direitos humanos, a China veja na União Europeia (UE) um parceiro importante nos seus planos de crescimento a nível internacional. A Europa representa uma alternativa de peso aos Estados Unidos nas pretensões do governo. Todavia, o crescimento sustentado da sua economia não pode centrar-se apenas nas suas relações com o exterior e isso é do conhecimento do partido comunista. A gestão eficaz dos problemas internos tem sido o pilar da economia chinesa. Muitas vezes não temos essa sensação mas a China ainda é considerada um país em vias de desenvolvimento.[xi] Mesmo assim, uma estimativa de 2007 publicada pelo Banco Mundial[xii], indica que, no ano de 2006, a China ultrapassou pela primeira vez a Zona Euro e alcançou o segundo lugar mundial em termos de PIB paridades de poder de compra. Para compreendermos melhor, devemos saber que a utilização deste indicador permite medir, de forma muito aproximada, o valor da economia real. A China contabilizou 15,1% do total internacional e aproximou-se quase do quinto da fatia mundial que a economia norte-americana detém.[xiii] Como atingiu a China tal feito?

Modelo Económico

Nos primeiros passos do regime comunista, o objectivo principal do governo chinês era estabelecer um modelo de desenvolvimento económico sustentado e semelhante ao adoptado na União Soviética, ou seja, uma economia de direcção central. O primeiro governo central encontrou uma solução e decidiu definir os célebres planos quinquenais de gestão da economia chinesa. Os planos ainda hoje são utilizados e, há dois anos atrás, o Congresso Nacional do Povo começou a definir o décimo primeiro plano quinquenal.[xiv] Nesse ano de 2007, o reconhecimento da propriedade privada foi uma das medidas em destaque e um passo importante para ao desenvolvimento económico chinês. A lei da propriedade privada estabeleceu que todos os bens privados ou estatais seriam futuramente reconhecidos de igual modo pelo poder político. Um dos direitos fundamentais das nações modernas e desenvolvidas foi finalmente reconhecido, à semelhança das democracias ocidentais.

Nos últimos trinta anos, a população e o poder político testemunharam um período de enorme transformação social. Iniciada em 1978 sob a liderança de Deng Xiaoping, a grande reforma do regime comunista foi a responsável pelo fenómeno e nasceu com a consciência de que o modelo de direcção central não seria suficiente para permitir o crescimento económico sustentado. A reforma alterou progressivamente os fundamentos da economia fechada de planeamento central e tornou o país numa economia dinâmica e aberta ao investimento estrangeiro. O sucesso das medidas chinesas pode ser comprovado com a observação das taxas de crescimento anual do PIB na ordem dos dois dígitos. O novo socialismo chinês permitiu a uma quantidade significativa da sua população passar de uma situação de pobreza extrema para um nível aceitável de desenvolvimento socioeconómico, mesmo segundo os padrões de vida ocidentais. Aparentemente, a economia chinesa tem tão de sui generis quanto a União Europeia tem como organização internacional.

Desenvolvimento Humano

O resultado da viragem poderá ser verificado pela observação dos dados relativos ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da China. Este elemento de análise utiliza três indicadores para medir o patamar de desenvolvimento das nações. Numa escala de zero a um, utiliza os valores da esperança de vida, o nível de educação e o rendimento médio do país. Com as suas reformas estruturais, o regime chinês conseguiu aumentar em quase 50% o valor do IDH, no período compreendido entre 1978 e 2005.[xv] O aumento representa o dobro do ritmo de crescimento da média mundial.[xvi] Hoje, a China moderna tem um valor muito próximo dos 0,8 enquanto as nações desenvolvidas possuem valores de referência acima dos 0,9. Para atingir os níveis de IDH actuais a administração chinesa definiu em 1980 a estratégia necessária para alcançar cinco objectivos considerados essenciais: expandir a procura doméstica, aperfeiçoar a estrutura económica do país, assegurar a protecção dos seus recursos naturais e ambientais, desenvolver equilibradamente as suas zonas rurais e urbanas e, finalmente, continuar a sua estratégia de desenvolvimento orientada para a tecnologia e educação. Duas décadas mais tarde, no ano de 2002, o governo nacional propôs-se também a atingir os Objectivos de Desenvolvimento para o Novo Milénio.

Educação

Antes da subida ao poder do Partido Comunista, a China possuía uma taxa de iliteracia elevadíssima que, segundo hoje indicam as autoridades nacionais, atingia o valor de cerca de 80%.[xvii] A governação de Mao Zedong não veio alterar significativamente esta realidade pois o programa escolar leccionado no país, durante o seu período, revelou-se completamente desadequado aos desafios a que o líder propunha-se alcançar. O conteúdo escolar consistia essencialmente no estudo do pensamento Maoísta e a sua escolha teve sérias consequências para a geração dos anos sessenta e setenta.[xviii]

A “verdadeira” reforma do sistema de educação só começou a ganhar expressão nos anos oitenta, anos após a subida ao poder de Deng Xiaoping. O governo decidiu neste momento aumentar consideravelmente o investimento público em educação. O objectivo seria canalizar os recursos financeiros suficientes para reestruturar o sistema nacional de educação e flexibilizá-lo de modo a responder às especificidades de cada região que compunha a China.

Em 1986, o Congresso Nacional do Povo introduziu legislação que estabelecia um período de nove anos de escolaridade obrigatória no país. O governo pôde assim ir ao encontro da sua estratégia de desenvolvimento orientada para a educação que fora definida no início da década. As medidas entrariam imediatamente em vigor nas grandes zonas urbanas e até 1990 expandir-se-iam às zonas rurais mais desenvolvidas. Finalmente, por volta do ano 2000, todo o território chinês estaria abrangido pelo novo regime de educação.

(…)

(este texto é parte de um artigo escrito em Maio de 2009)

[i] Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 13

[ii] Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 14

[iii] Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 14

[iv] Chunhou Zhang e C. Edwin Vaughan., Mao Zedong as Poet and Revolutionary Leader  (Chicago: Lexington Books, 2002), 65 e Google, “Mao Zedong as Poet and Revolutionary Leader ”, Google Books, http://books.google.com/books?id=EWtBMQgUGmEC&pg=PA76&dq=isbn:0739104063

[v] Sugestão de leitura: http://www.travelchinaguide.com/cityguides/shaanxi/

[vi] A designação “Pensamento Marxista-Leninista-Mao Zedong” também pode ser utilizada. A designação Maoísmo não é raramente utilizada em território chinês: ”This mixture of philosophy and political dogma is often known in the West as ‘Maoism’ for the sake of brevity, although this usage has never been popular in China.” in Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 15

[vii][vii] Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 15

[viii] A divisão do território chinês em dois, em 1949, criou uma situação internacional sem precedente histórico. A existência de uma China Continental e uma a China Insular, como pode ser comummente designada. Até 1971, as Nações Unidas reconheceram a actual República de Taiwan como a “legítima China” e o país assegurou até então o assento chinês no conselho de segurança. “It needs to be emphasized strongly that this new Taiwan is totally different from the old so-called “Republic of China” which was kicked out of the United Nations in 1971. Resolution 2758 dealt with the question who was representing China in the United Nations. It did not deal with the question of Taiwan’s representation, which is a separate issue, to be dealt with as a follow up on the decisions of the San Francisco Peace Treaty of 1951-52 (see text of the Resolution below).” in New Taiwan, Ilha Formosa, “Taiwan and The United Nations”, New Taiwan, Ilha Formosa: The Website for Taiwan’s History, Present and Future, http://www.taiwandc.org/un-2001.htm

[ix] Matthieu Bussière e Arnaud Mehl., China’s and India’s Roles in Global Trade and Finance, Occasional Papers Nº80/January 2008,   (Frankfurt am Main: European Central Bank, 2008), 7

[x] Matthieu Bussière e Arnaud Mehl., China’s and India’s Roles in Global Trade and Finance, Occasional Papers Nº80/January 2008,   (Frankfurt am Main: European Central Bank, 2008), 7

[xi] Relatório do FMI

[xii] Matthieu Bussière e Arnaud Mehl., China’s and India’s Roles in Global Trade and Finance, Occasional Papers Nº80/January 2008,   (Frankfurt am Main: European Central Bank, 2008), 6

[xiii] Matthieu Bussière e Arnaud Mehl., China’s and India’s Roles in Global Trade and Finance, Occasional Papers Nº80/January 2008,   (Frankfurt am Main: European Central Bank, 2008),5 – gráfico nº1

[xiv] Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 25

[xv] Ministry of Foreign Affairs of the People’s Republic of China and  The United Nations System in China, China’s Progress Towards the Millennium Development Goals 2008 Report (China: United Nations System in China, 2008), 13

[xvi] Ministry of Foreign Affairs of the People’s Republic of China and  The United Nations System in China, China’s Progress Towards the Millennium Development Goals 2008 Report (China: United Nations System in China, 2008), 13

[xvii] Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 70

[xviii] Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 70

Filme – Rosewater (realizado por Jon Stewart)

Vídeo: Rosewater TRAILER 1 (2014) – Gael García Bernal, Jon Stewart Drama HD

Rosewater é o primeiro filme com a assinatura do famoso apresentador Jon Stewart. A realização e o argumento estão a cargo de Stewart.

O filme conta-nos a história de Maziar Bahari, um jornalista iraniano preso e torturado aquando da cobertura da campanha e votação presidencial iraniana. O jornalista esteve detido durante cinco meses na prisão iraniana de Evin por alegadamente conspirar contra o regime do Irão e por actos de espionagem a favor dos países Ocidentais.

Apresentando-se como um activista e defensor dos direitos humanos, a abordagem e o estilo desinibida do repórter, face aos protestos que se seguiram à vitória de Mahmoud Ahmadinejad nas eleições presidenciais de 2009, valeram-lhe a acusação grave de que conspiraria contra o regime do Irão.

O trailer do filme apresenta um traço diferente daquilo que o apresentador a todos nos habituou no famoso programa Daily Show. O estilo é diferente, o filme promete ser meticuloso e apresentar uma visão documental dos acontecimentos e incidentes do ano de 2009.

China – História Imperial

A civilização chinesa conta já com mais de quatro mil anos de existência documentada. Os grandes rios que percorrem o território impulsionaram o desenvolvimento da agricultura nos primórdios das grandes civilizações e nessa altura o sedentarismo começou a ganhar expressão.

A China é considerada a civilização mais antiga do mundo em existência e desde a criação do seu império que é considerada uma nação próspera e culturalmente avançada, graças em parte aos seus recursos naturais.

A constituição do Império Chinês data do ano de 221a.C., quando o primeiro imperador Qin Shi Huangdi iniciou a primeira dinastia Qin e unificou os vários estados feudais que compunham o território chinês. No decurso de dois milénios, a China Imperial foi governada por apenas sete dinastias e a estabilidade e continuidade destas apenas foi abalada durante as fases de transição das dinastias[i].

É interessante saber que nem sempre o Império foi governado por dinastias de origem chinesa.Duas destas dinastias pertenceram a povos considerados de origem bárbara[ii] pela maioria Han. A dinastia Yuan era de origem Mongol e governou entre 1271 e 1368. A dinastia Qing era de origem Manchu e dirigiu o destino da China no período de 1644 a 1911, até ao final do império.

Os períodos de turbulência vividos durante as fases de transição tinham normalmente a sua origem na contestação do povo perante os privilégios da pequena elite que, no seu entender, corrompia o poder político e o seu prestígio. Esta é uma característica importante a reter do período imperial. Os governantes sempre reclamaram para si a honra e a virtude de governar a poderosa civilização chinesa, os chineses apelidavam-nas como o Mandato dos Céus.

Apesar da alusão a uma espécie de divina tarefa, a população teve sempre a capacidade suficiente para derrubar os seus governantes e o sentimento momentâneo de insatisfação disseminava-se pela sociedade chinesa com uma rapidez impressionante.

Em meados do séc. XIX, começa a desenrolar-se uma série de eventos importantes para a história moderna e o declínio do Império Chinês. Desde o século passado que o império procurava a todo o custo controlar as suas relações comerciais com o exterior aplicando medidas de restrição a estas mesmas.[iii]

A atractividade da economia chinesa e o seu potencial fez com que as nações ocidentais tentassem nesse período obter privilégios comerciais com o império. Contudo, a diplomacia ocidental nunca atingiu as suas intenções. Na década de quarenta do séc. XIX, o desentendimento diplomático entre a Grã-Bretanha e o Império Chinês dá origem a uma ofensiva militar britânica que desencadeia a famosa “Guerra do Ópio”[iv] (1939-42). O Império Britânico saiu vencedor e obrigou o império derrotado a assinar o Tratado de Naijing.

No tratado, a China era forçada a prestar uma série de concessões aos países ocidentais, incluindo a abertura das suas relações comerciais ao Ocidente e a cedência do entreposto comercial de Hong-Kong à Grã-Bretanha. A assinatura do tratado continua ainda hoje a ser considerada uma humilhação imposta ao povo chinês. Na Região Administrativa Especial de Hong-Kong, a população chinesa também guarda algum ressentimento em relação aos britânicos e a transição desta não foi pacífica aquando da sua devolução em 1997. Por curiosidade, note-se que em Macau o sentimento é precisamente o inverso do anterior e a passagem de Macau para as autoridades chinesas decorreu de forma absolutamente pacífica. Portugal continua ainda hoje a manter boas relações diplomáticas com a República Popular Chinesa.[v]

Regressemos à sua história. No início do séc. XX, a população chinesa começa a expressar o seu sentimento de revolta perante o desprestígio do imperialismo chinês, a corrupção entre os membros do aparelho burocrático e a sua submissão ao Ocidente. Analogamente ao que é referido mais acima, o comportamento da população começa a ameaçar a soberania imperial e culmina naquela que é conhecida como a “Revolta dos Boxeurs”. No entanto, a rebelião é literalmente esmagada com o auxílio militar dos países estrangeiros que exploram as concessões chinesas.

Nesta primeira década, a fome e a pobreza generalizadas assolam a população chinesa de maioria Han. A tensão social é o factor que precipita a criação dos movimentos populares nacionalistas de espírito reformista e revolucionário. Em 1910, há uma tentativa falhada de golpe de estado liderada por Sun Yat-sen que fica conhecida como a “Revolução de 29 de Março”. Curiosamente nesse ano a escravatura é oficialmente abolida.[vi] Um ano depois, um conjunto de rebeliões armadas toma o controlo de todas as províncias chinesas e, em 1912, a República Chinesa é proclamada por Sun Yat-sen. O regime republicano começa assim com o fim de mais de dois milénios de governação imperial.[vii]

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(este texto é parte de um artigo escrito em Maio de 2009)

[i] Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 10

[ii] “Some of the most important dynasties in Chinese history were of non-Chinese (or, as far as many Chinese were concerned, ‘barbarian’) origin. The ruling elite of the Yuan dynasty was Mongolian and the aristocracy of the Qing dynasty was Manchu; both of these came from people who had their origins in nomad tribal confederations of the vast regions to the north of China. Their languages, cultures and traditions were quite unlike those of the Han Chinese although proximity, trade and confl ict had led to linguistic and cultural borrowing in both directions over the centuries.” in Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 11

[iii] Nuno Valério e Ana Bela Nunes e Nuno Valério, História da Economia Mundial Contemporânea (Lisboa: Editorial Presença, 2004), 71

[iv] “The Opium War is called by this name because it was the determination of the Qing court to bring to an end the British sale of opium to China that led to hostilities: on both sides, however, it was widely accepted that the issues in contention were far greater than just the trade in a narcotic, however much this was resented by China. China’s territorial integrity and the question of who should exercise control over its foreign trade were at stake.” in Michael Dillon, Contemporary China – An Introduction (New York: Routledge, 2009), 11-12

[v] Agência Lusa, “Jaime Gama enaltece ‘boas relações (Maio 5, 2009)’”, Agência Lusa, http://www.lusa.pt/lusaweb/user/showitem?service=310&listid=NewsList310&listpage=1&docid=9633764

[vi] “The Imperial government formally abolished slavery in China in 1906, and the law became effective on Jan. 31, 1910, when all adult slaves were converted into hired labourers and the young were freed upon reaching age 25.” in Encyclopedia Britannica, “Slavery (sociology), Ways of ending slavery”, Britannica Online Encyclopedia, http://www.britannica.com/EBchecked/topic/548305/slavery/24160/Ways-of-ending-slavery.

[vii] Em relação à continuidade e estabilidade da República Popular da China, há um pequeno excerto da autoria dos historiadores Nuno Valério e Ana Bela Nunes que julgo ser útil a ter como referência. Citação: “O papel que a China virá a desempenhar na vida mundial no século XXI depende basicamente do modo como evoluirá a sua situação em relação a três dificuldades importantes que sente a curto prazo: o atraso, o risco de desagregação e a indefinição política. Se tais problemas forem superados, a China será indubitavelmente uma grande potência económica do século XXI. Caso contrário, a China deverá continuar a viver numa posição relativamente secundária.” in Nuno Valério e Ana Bela Nunes e Nuno Valério, História da Economia Mundial Contemporânea (Lisboa: Editorial Presença, 2004), 247

Jogos Olímpicos – A Projecção Chinesa

No Verão de 2008, o mundo focou a sua atenção num país tão distante como presente no seu dia-a-dia. A República Popular da China foi pela primeira vez na sua história moderna o país anfitrião dos Jogos Olímpicos.

O evento em si tornara-se um sério desafio para as autoridades chinesas pois representaria muito mais do que um evento desportivo à escala mundial. Seria a oportunidade única para a China moderna assumir-se definitiva e internacionalmente como potência mundial. A projecção do país com mil e trezentos milhões de habitantes e uma notável capacidade organizativa teria que correr na perfeição.

No entanto, a realização do evento foi ensombrada pela violenta resposta do exército chinês aos protestos independentistas ocorridos no Tibete em Março de 2008. A questão dos direitos humanos foi mais uma vez um problema e este episódio relembrou o massacre da Praça de Tiananmen em Junho de 1989.

Nesse dia, o mundo assistiu atento às imagens da violentíssima repressão chinesa perante um protesto estudantil pacífico. A Amnistia Internacional estima que centenas de civis tenham sido executadas pelo exército. Na sua maioria estudantes que contestavam o regime comunista e exigiam uma reforma democrática no país.

A imagem de um tanque militar diante de um civil chinês é a mais marcante representação desta manifestação. Teve o simbolismo de um regime gigante e poderoso que estaria disposto a esmagar a mais tímida demonstração de descontentamento. A reprovação da comunidade internacional aos acontecimentos de 2008 propagou-se por todo o mundo e a tocha olímpica, símbolo de paz e união entre povos, foi apagada pela primeira vez na história moderna dos jogos durante o seu percurso.

A cerimónia de inauguração do estádio olímpico, conhecido como “O Ninho do Pássaro”[i], satisfez o Comité Olímpico e a coreografia perfeita de milhares de figurantes[ii] deslumbrou mais de um milhar de milhões de pessoas que assistiam em directo ao evento. No momento da cerimónia estiveram presentes mais de oitenta líderes mundiais e altos dignitários que talvez, com a sua presença, quisessem comprovar “o milagre chinês”.

Todavia, nos dias seguintes ao espectáculo olímpico a demonstração perdera alguma importância e tornara-se um embaraço para o regime comunista. A imprensa estrangeira descobrira que o momento da actuação ao vivo e a solo de uma jovem chinesa não tinha passado de uma simples imitação de uma outra jovem. A verdadeira protagonista tinha sido substituída por razões estéticas e por não transmitir na perfeição a imagem da China moderna. A opinião pública internacional e os líderes certamente não terão ficado indiferentes a esta tentativa de ludibriar o evento.

Nos dezasseis dias da competição, o desporto olímpico testemunharia vários momentos de emoção que apagariam um pouco o fantasma dos níveis de poluição verificados em Pequim. O nadador olímpico Michael Phelps conseguiu atingir pelos Estados Unidos a mítica marca das oito medalhas de ouro, numa só edição, e Usain Bolt da Jamaica deslumbrou o mundo quando bateu o recorde mundial de atletismo dos cem metros livres.

A China também conseguira um feito histórico, acumulara o maior número de medalhas de ouro dos jogos e ultrapassara assim os seus maiores rivais, os norte-americanos. A disputa de medalhas recordara os jogos realizados durante o período da Guerra Fria onde a União Soviética e os E.U.A. defrontavam-se no único campo de batalha onde o confronto directo era possível.

Todavia, neste ano a demonstração não carregaria o peso ideológico ou político de duas nações diferentes. Em 2008, mais do que tudo, os números estavam em jogo e a sua importância era maior quando, as nações de hoje, debatem-se para afirmar-se economicamente num mundo cada vez mais globalizado e competitivo. As duas potências mundiais não confrontaram desta vez ideais políticos mas sim números e números a China tem muito para dar. Comecemos pela sua história.

(…)

(este texto é parte de um artigo escrito em Maio de 2009)

[i] Website oficial do estádio olímpico de Pequim: http://en.beijing2008.cn/venues/nst/

[ii] Sugestão de lazer: algumas das imagens da cerimónia encontra-se disponíveis no website dos Jogos Olímpicos de 2008 em http://en.beijing2008.cn/ceremonies

Médicos Sem Fronteiras

Cirurgia na JordâniaSão quase duas e meia da manhã e após uma longa maratona de trabalho encontro nas notícias algo que faz desaparecer todo o meu cansaço.

A correspondente da BBC no Médio Oriente, Natalia Antelava, conta-nos como os médicos iraquianos andam a salvar vidas longe do seu país de origem. Na Jordânia, a repórter acompanhou uma equipa de cirurgiões que alterou a vida do pequeno Hussein e de tantas outras crianças afectadas pela guerra no Iraque .

The boy looked like an old man. His lips moved slowly, trying to stretch against his inflexible, badly scarred skin, and bandages covered his eyes.

But the voice that came out of his disfigured face was loud and cheerful and it filled the hospital room.

“I want to go back to Iraq, I miss my dad,” Hussein said.

reportagem BBC News

Mil Imagens: Peixe Fugu

Vida Selvagem
Vida Selvagem
Família: Tetraodontidae
Habitat: Oceano Pacífico, Oceano Índico e Oceano Atlântico (Trópicos)
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Na foto aparece uma das várias espécies do conhecido peixe fugu. Estes animais aquáticos são famosos pela alta toxicidade do veneno que possuem em vários dos seus órgãos.Na gastronomia japonesa, quando mal confeccionado, o consumo deste peixe pode revelar-se letal o que o torna num dos pratos de maior projecção e exóticos no Japão.